Crítica: O Milagre Segundo Salomé (2004)
O Milagre Segundo Salomé
Mário Barroso, Portugal, 2004
Adaptando o romance de José Rodrigues Miguéis, O Milagre Segundo Salomé centra a sua acção em 1917, altura em que, no panorama social, a ainda florescente primeira República Portuguesa atravessa momentos de instabilidade; e segue a figura de Salomé, uma jovem vinda do interior, que trabalha como prostituta de luxo na casa de Dona Rosa.
Atraíndo as atenções de um próspero banqueiro, cedo a rapariga se transfere para mais requintados ambientes.
A estreia na realização do ilustre cinematógrafo Mário Barroso demonstra a sua excelência na técnica e a experiência obtida nos muitos anos de trabalho com várias figuras de renome.
O filme, que é excepcional no panorama cinematográfico nacional, assenta a sua sólida construção, tanto no virtuosismo visual de Barroso (aqui também a cargo da fotografia) e numa constante sensação de profissionalismo, visível na detalhada reprodução do ambiente de início de século; como também num argumento coerente constituído de narrativas paralelas bem estruturadas que lhe atribuem profundidade.
De entre os actores, o nome do experiente Nicolau Breyner sobressaí, graças a uma sóbria interpretação de um novo-rico iludido com o seu novo afecto, mas consciente da momentaniedade de tal situação.
A apoiá-lo encontra-se um conjunto de jovens que, apesar de não alcançarem a sua qualidade, conseguem sustentar as suas personagens eficazmente.
Outra saudável presença é a do maestro Bernardo Sassetti, que enriquece a película com as suas composições.
7/10