Crítica: L'Enfant (2004)
L'Enfant
Jean-Pierre e Luc Dardenne, Bélgica, 2004
Com um bébé recém-nascido nos braços, Sónia procura o seu companheiro pelas ruas de uma pequena cidade industrial belga.
Entre os carros parados num semáforo, Bruno pede dinheiro aos condutores. Este jovem adulto, para quem qualquer forma de obter dinheiro não passa por um emprego convencional, está tudo menos preparado para enfrentar o novo desafio que a vida lhe propõe.
A verdade é que não parece muito preocupado com isso.
Não encontrando lugar para o nascituro na sua vida, o destino que decide lhe dar parece ser o mais lógico, no entanto perceberá não ser o mais fácil.
A amoralidade da sua conduta diária prepara o espectador para os acontecimentos que se seguem, que se tornam numa consequência directa dessa mesma visão esvaziada de valores que dita a sua sobrevivência.
Desta forma é difícil pura e simplesmente condenar as suas acções. Esta é talvez a maior vitória do filme.
A criança do título torna-se num veículo para a redenção de Bruno.
A audiência assiste ao crescimento forçado do jovem e percebe que as suas acções não são fruto da sua falta de sentimentos mas da sua inexperiência emocional.
Bruno é na realidade uma figura paternal para os seus pequenos órfãos companheiros do crime, e se o destino o permitir poderá ainda sê-lo para o seu próprio filho.
O quarto numa sequência de êxitos junto da círtica, L'Enfant é também a segunda obra dos irmãos Dardenne a ser galardoada com a Palma de Ouro de Cannes.
A visão da dupla, invocativa do realismo de clássicos do cinema europeu parece ter conquistado o público dos festivais.
Com uma técnica que assenta na imediatez das personagens e na fluidez do enredo, os realizadores pôem de parte os afloramentos musicais e visuais.
A câmara não se desvia por um instante da acção, permitindo assim um maior impacto da estória e um ritmo extremamente acessível.
Esta leveza com que aborda uma delicada temática é bem sucedida ao distinguir a película de outros dramas sociais.
7/10
7/10